Sempre fui acostumada à autonomia.
Fazia sozinha, gerenciava problemas e melhores atitudes.
Estudei em colégio de freira, sim. O das melhores patricinhas da capital do RS.
E morava naquele bairro que fica lá no alto, como também as patricinhas precisam morar.
Sim, eu fiz ballet, e jazz e teste pra propaganda das lojas Alfred, eu li o Petit Prince
e contava a história do Pinóquio em italiano. Sim eu usava sainha plissada com meia 3/4,
era o uniforme da minha escola.
Eu tinha uns "zóião", sim. E ainda tenho, mesmo...
Maquiava, penteava e sonhava em ter o cabelo da Cláudia Raia... Em 85, pensa...
Passou e eu estudei na faculdade dessas mesmas patricinhas, com a roupa que me convinha,
sandália com meia, jeans e havaianas, uma coisa low profile, tênis de plataforma numa atitude meio clubber. Me deprimia, e chorava escondida, deitada no chão da área de serviço.
Troquei muitas coisas, de namorados a cursos universitários o que eu mais troquei mesmo foi a cor e o comprimento do cabelo. E isso segue... Do zero pro cabelão do roxo pro preto, vermelho e rubio platino.
Com 16 anos eu estava lá naquela faculdade, morava sozinha, usava algumas drogas ilícitas
que hoje em dia até parecem lícitas e me davam fome. Depois tomava remedinho que matava essa fome.
Tomava meu prozac de cada dia porque tava depressiva, santa ignorância!
Tomava Frontal pra dormir porque a outra boleta me deixava ligada.
Não trabalhava, até que meu pai me disse:
"Dinheiro? Pra fazer a unha? Isso é colocar dinheiro fora, depois estraga e se foi meu dinheiro!"
Comecei a trabalhar assim...
Já tive catapora, sarampo e sapinho na garganta.
Bisexual, todo mundo é, mas nem todos se descobrem, mas eu gosto taaanto do oposto.
E se eu uso calça prateada, cabelo chapado, brinco de argola, ou se eu uso tênis e calça de cetim, isso é por conveniência. Porque eu sou parte do sistema. Porque eu militei na rua,
porque eu chorei quietinha e às vezes eu gritei de raiva.
E se eu tive uma filha linda foi porque eu decidi assim. Pra nós duas, pra todos e pra mim.
Não vim pra esse mundo passeando, eu vim a trabalho.
Claro que combino sempre trabalho e lazer, mas o primeiro me leva bem mais tempo.
Não me deslumbro por moedas e não sei "guardar para mañana". Mas gasto muito em shampoo e condicionador, tênis e badulaques, gosto de bolsas, bolsinhas, mochilas e lenços. Tiaras, óculos de sol e óculos de grau. Eu gosto de metáforas e crianças. E de livros novos e antigos.
De fuscas vermelhos pra colar bolinhas pretas e fazer de conta que é uma joaninha.
E de desenhar, pintar e escrever. Putaria pra fazer escrever e ler. Não tomo mais remédio, nem floral, nem homeopáticos, nem aspirina. Gosto de álcool sexual, café holográfico e mate subliminar.
Gosto de jogos de palavras e palavras jogadas. Gosto do mesmo e sempre desse. Mas gosto de outros que moram nele também.
Não respeito gente sem personalidade, menos ainda quem assume coisas que não é e não tem.
Eu gosto de gente - "voy de los castillos a los callejones" mas gente que assume, se é na vila é na vila e "tamo junto no corre, truta" se é no bairro nobre, da igual... mas fingindo não, fingindo não dá pé!
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